Vapes: moda perigosa pode roubar a voz e a saúde de milhões de jovens
Especialistas alertam para riscos invisíveis dos cigarros eletrônicos, que já afetam até artistas renomados
O cigarro eletrônico, popularmente chamado de vape, ganhou espaço entre os jovens como símbolo de modernidade e estilo. Mas, por trás da nuvem colorida de vapor e aromas adocicados, há um alerta grave: a perda da voz e sérios danos à saúde.
De acordo com médicos e estudos recentes, o consumo frequente do dispositivo está diretamente ligado a inflamações na laringe e lesões nas cordas vocais. Em casos extremos, a consequência pode ser a perda total da voz — um risco que já atingiu personalidades conhecidas, como a cantora Solange Almeida, ex-vocalista da banda Aviões do Forró, e a influenciadora Vanessa Lopes, ex-participante do Big Brother Brasil. Ambas enfrentaram complicações graves após o uso do eletrônico.
Epidemia silenciosa: milhões já dependem do vape
Segundo dados recentes, cerca de 27 milhões de brasileiros a partir de 14 anos fumam cigarros convencionais ou eletrônicos. Apesar da proibição de venda do vape no Brasil desde 2009 pela Anvisa, o consumo cresce em ritmo alarmante.
O risco é ainda maior porque o dispositivo concentra até três vezes mais nicotina que o cigarro tradicional, além de liberar metais pesados e substâncias cancerígenas.
“Estamos diante de uma tecnologia aperfeiçoada para o mal”, resume a cardiologista Jaqueline Scholz, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor (Instituto do Coração).
Tragadas em excesso, inflamações invisíveis
Enquanto um fumante consome, em média, 200 tragadas por maço de cigarro, os usuários de vape podem chegar a 3.000 tragadas por dia. O aerossol inalado carrega nicotina, aromatizantes e compostos químicos que, aquecidos a 250 °C, se transformam em partículas ultrafinas capazes de atingir os alvéolos pulmonares e cair diretamente na corrente sanguínea.
Os efeitos são devastadores: inflamações em todo o organismo, pneumonites, crises respiratórias, doenças cardiovasculares e até infartos em jovens aparentemente saudáveis.
“É comum observarmos jovens com problemas que só apareceriam décadas depois em fumantes tradicionais. O estrago é rápido e profundo”, explica a doutora Scholz.
Dependência em tempo recorde
Um estudo conduzido pelo Incor em parceria com a Vigilância Sanitária e a Faculdade de Medicina da USP revelou um dado preocupante: os níveis de nicotina no organismo de usuários de vape podem ser seis vezes maiores do que os encontrados em fumantes de cigarro comum.
Outro dado chama atenção: a dependência se instala de forma acelerada. Enquanto o cigarro tradicional pode levar anos para causar forte dependência, no eletrônico isso acontece em apenas três a seis meses de uso contínuo.
“Cerca de 70% dos jovens analisados tinham entre 18 e 25 anos e nunca haviam experimentado cigarro antes do vape. Eles entraram diretamente em uma forma mais nociva de dependência”, destacou Scholz, que também coordenou a pesquisa.
O falso ar de modernidade
Apesar de ser vendido como uma alternativa “mais leve” ou “moderna” ao cigarro, o vape antecipa danos e intensifica o vício. Doenças que antes levavam décadas para surgir agora aparecem em poucos meses de uso.
“O cigarro eletrônico não traz absolutamente nenhum benefício. Ele acelera a dependência, prejudica a saúde vocal, respiratória e cardiovascular e expõe os jovens a riscos gravíssimos”, alerta a especialista.
Conclusão: entre o glamour e o colapso
A realidade é clara: o vape é um produto disfarçado de inovação, mas carregado de consequências fatais. Da voz perdida ao coração em risco, os impactos vão muito além da aparência de modernidade.
Com o aumento vertiginoso de usuários no Brasil, especialistas reforçam: o debate sobre prevenção, consciência e responsabilidade nunca foi tão urgente.

