Servidor da prefeitura de Cafeara é investigado por aumentar o próprio salário e o de colegas sem autorização do prefeito
Ministério Público, Polícia Civil e Prefeitura apuram suspeita de fraude em documento que teria sido publicado sem assinatura do chefe do Executivo
Um servidor da Prefeitura de Cafeara, no norte do Paraná, está no centro de uma investigação que envolve suposto aumento salarial irregular. Segundo apurações do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o funcionário teria publicado uma portaria que elevava a própria gratificação e a de outros dois colegas — sem o consentimento ou assinatura do prefeito.
A denúncia levou o caso a ser investigado simultaneamente pelo MP, pela Polícia Civil e pela própria Prefeitura. A suspeita é de que o documento usado para justificar o reajuste tenha sido criado e divulgado sem respaldo legal.
Portaria sem assinatura e aumento no holerite
O servidor investigado foi identificado como Anderson Turozi, que ocupava o cargo de chefe do Departamento de Recursos Humanos do município.
De acordo com o promotor Renato dos Santos Santanna, os colegas só descobriram o aumento quando consultaram o holerite e notaram os valores acima do normal.
“Constatamos que o servidor, por conta própria, ao arrepio da lei e sem autorização do prefeito, publicou uma portaria que justificava o aumento. O prefeito se recusou a assinar o documento e afirmou que o benefício não era devido”, explicou o promotor ao portal.
Após a descoberta, o servidor foi afastado temporariamente e colocado em férias, enquanto a administração municipal abriu um procedimento interno para apurar a conduta.
Valores e irregularidades
De acordo com o Portal da Transparência, o salário de Anderson apresentou aumento entre agosto e setembro:
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Em agosto, ele recebeu R$ 2.558,78 de gratificação;
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Em setembro, o valor subiu para R$ 3.117,88, um acréscimo de R$ 559,10.
Os outros dois servidores também teriam recebido aumentos semelhantes.
Segundo o MP-PR, o caso se enquadra como possível peculato eletrônico, improbidade administrativa e infração disciplinar, podendo resultar até em exoneração.
“Depois a gente devolve”, diz testemunha
Depoimentos obtidos pela Polícia Civil revelam que os colegas de Anderson estranharam a pressa do servidor em publicar a portaria e que ele teria insistido para que o documento fosse divulgado um dia antes do pagamento.
Um dos servidores relatou:
“Ele chegou dizendo que tinha feito a portaria e que precisava publicar urgente. Eu disse que queria algo legal, com autorização. No dia do pagamento, ele falou: ‘Depois a gente devolve e vai ficar tudo bem’. Quando vi o holerite, o dinheiro já estava na conta.”
Os dois colegas denunciaram o caso ao secretário de Administração e assinaram um termo se comprometendo a devolver os valores recebidos indevidamente.
Defesa pede cautela e confia na Justiça
O advogado Edmilson Bonach, que representa Anderson Turozi, divulgou uma nota informando que o cliente não se pronunciará fora do ambiente judicial.
Em nota, a defesa destacou:
“Toda manifestação será feita exclusivamente perante o juízo competente, onde confiamos que prevalecerão a verdade e a Justiça. Especulações e julgamentos precipitados apenas distorcem a realidade dos fatos.”
O defensor reforçou o compromisso com o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, afirmando confiar na imparcialidade do Poder Judiciário.
Investigação deve ser concluída em 15 dias
De acordo com o delegado Ricardo Freitas, responsável pelo caso, a Polícia Civil já ouviu os dois servidores denunciantes e deverá ouvir o prefeito e um secretário municipal nos próximos dias.
O inquérito deve ser concluído em até 15 dias, quando o Ministério Público poderá definir as medidas cabíveis.
O prefeito Elton Fábio Lazaretti (PRD) foi procurado, mas não retornou o contato até o fechamento desta reportagem.

