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Megaoperação no Rio: imagens mostram uma madrugada de guerra que parou a cidade

Madrugada de fogo: o início da operação que virou o Rio de cabeça para baixo

Ainda era madrugada quando 2.500 policiais civis e militares invadiram os complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. O que começou como uma ação planejada para desmontar o poder do Comando Vermelho, se transformou em uma das operações mais letais da história do estado — com 121 mortos confirmados.

Imagens exclusivas, obtidas com exclusividade por nossa reportagem, mostram criminosos fortemente armados, muitos com roupas camufladas, aguardando a chegada das tropas no alto da Serra da Misericórdia. Assim que os primeiros tiros ecoaram, a comunidade virou um campo de guerra.

Estratégia de cerco e avanço: o BOPE e o Choque na linha de frente

Com a ofensiva iniciada, equipes do BOPE avançaram pelo Complexo do Alemão, formando uma barreira que bloqueava o acesso à Penha. Do outro lado, o Batalhão de Choque entrava pela Vila Cruzeiro, enquanto a Polícia Civil cercava as rotas de fuga.

Os repórteres cinematográficos Marcello Dórea e Jadson Marques, especialistas em coberturas de confronto, estavam na linha de tiro. “Era bala por todos os lados. Nunca vi tanto tiro em minha vida”, contou Marcello, descrevendo o som ensurdecedor que dominou as vielas.

Drama no campo de batalha: o resgate do delegado ferido

Em meio ao caos, a tensão aumentou quando o delegado Bernardo Leal, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), foi baleado na perna. Sem saída do beco, agentes tiveram que arrebentar a parede de uma casa para retirar o colega.

“Usaram um pedaço de madeira e improvisaram uma tipoia para conter o sangramento, tudo isso sob fogo cerrado. O tiroteio não parava nem por um segundo”, relembrou Jadson.

O delegado foi colocado em uma motocicleta e levado às pressas para atendimento, enquanto os confrontos seguiam nas encostas.

Drone registra confronto brutal e morte de policial

Nas imagens captadas por drones da polícia, é possível ver o momento em que seis agentes avançam pela mata e são recebidos com rajadas de fuzil. Dois policiais caem feridos — um na mão, outro na barriga. Ao tentar socorrê-los, o agente Rodrigo Cabral é atingido na cabeça e morre no local.

O corpo de Rodrigo só foi resgatado quando o BOPE conseguiu abrir passagem rastejando sob fogo intenso. “Foi uma cena de guerra, com criminosos escondidos a poucos metros”, relatou um oficial.

Foto: Reprodução/ Fantástico

Rendição filmada: criminosos se entregam após horas de confronto

Por volta das duas da tarde, um grupo de policiais do Choque localizou uma casa onde 26 criminosos estavam escondidos. Após longa negociação, os suspeitos se renderam. O momento foi registrado em vídeo pelos próprios bandidos.

“Eu fui até a porta e disse que registraria tudo. Eles estavam apavorados. Um a um, começaram a sair sem camisa, com as mãos levantadas”, contou Jadson Marques.

O vídeo mostra o líder da quadrilha gritando: “Tá geral sem camisa, ninguém com nada! Vamos descer devagar, sem esculacho!”.

Foto: Reprodução/ Tv Globo

18 horas de fogo cruzado e uma cidade em pânico

A operação se estendeu por 18 horas, e o Rio de Janeiro parou. Comércios fecharam às pressas, transportes ficaram lotados e muitos trabalhadores voltaram para casa a pé.

À noite, blindados deixavam as favelas, mas o horror só seria revelado no dia seguinte. Na manhã de quarta-feira, moradores da Penha levaram dezenas de corpos até a Praça São Lucas, em uma cena que marcou para sempre a memória da cidade.

 121 mortos e feridos: o balanço de uma tragédia

Entre os 121 mortos, 115 já foram identificados — 88 tinham anotações criminais e 66 vieram de outros estados. Quatro eram policiais:

  • Marcos Vinícius Cardoso de Carvalho, 51 anos, inspetor da Polícia Civil;

  • Cleiton Serafim Gonçalves, 42, e Heber Carvalho da Fonseca, 39, sargentos da PM;

  • Rodrigo Velloso Cabral, 34, formado há apenas 40 dias.

Outros 15 policiais ficaram feridos, três em estado grave. O delegado Bernardo Leal teve parte da perna amputada.

Quatro civis também foram atingidos por balas perdidas — entre eles um mototaxista e uma mulher que fazia exercícios em uma academia próxima.

 Governo reage: “Operação necessária”, diz Cláudio Castro

O governador Cláudio Castro classificou a ação como “necessária e decisiva”:

“Era preciso agir para conter o terror imposto por criminosos. Quem quis se entregar, está preso. Quem enfrentou o Estado, encontrou o BOPE e a CORE pela frente.”

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou em seguida a criação de um Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado, com integração entre forças federais e estaduais.

“Vamos unir esforços para enfrentar o crime de forma rápida e coordenada”, afirmou o ministro.

Na sexta-feira, o governo federal encaminhou ao Congresso um projeto de lei para endurecer as penas contra organizações criminosas.

 Uma ferida aberta na história do Rio

A megaoperação, agora reconhecida como a mais letal do Rio de Janeiro, deixa um saldo de luto e questionamentos. Moradores ainda tentam compreender o que aconteceu entre a escuridão e o amanhecer daquela terça-feira.

Enquanto autoridades falam em vitória contra o crime, a cidade segue marcada por imagens que chocaram o país — homens armados, policiais feridos, e dezenas de corpos sendo carregados pelas mãos de quem vive o cotidiano da guerra urbana.

Foto: Reprodução

Maria Paula Carnelossi

Por: Maria Paula Carnelossi | Folha Regional

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