De promessa aos filhos à COP30: paranaense cria barreira contra lixo em rios e inspira o mundo
Iniciativa que nasceu nos fundos de uma casa em Colombo (PR) chega ao Pará e ganha destaque em evento internacional sobre mudanças climáticas
Um gesto simples de um pai para cumprir a promessa feita aos filhos transformou-se em exemplo internacional de preservação ambiental. O paranaense Diego Saldanha, morador de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, criou há quase dez anos uma “ecobarreira” no Rio Atuba — sistema artesanal capaz de reter toneladas de resíduos sólidos que seriam levados pelas águas até o Rio Iguaçu.
De lá para cá, a ideia se multiplicou, rompeu fronteiras e chegou até a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Belém (PA). Hoje, a criação paranaense é considerada um símbolo de ação cidadã capaz de inspirar políticas públicas em defesa dos rios.
Como tudo começou: um pai, um rio e uma promessa
Diego cresceu às margens do Rio Atuba e guarda na memória os tempos em que era possível nadar e pescar no local. Ao perceber a degradação do curso d’água, fez um compromisso com os filhos: tentaria devolver ao rio um pouco da dignidade perdida pela poluição.
Nos horários de folga do trabalho como vendedor de frutas, pesquisou soluções e construiu a primeira ecobarreira. O sistema é simples e eficiente: uma estrutura flutuante que bloqueia garrafas PET, sacolas plásticas, isopor e outros resíduos, sem prejudicar a vida aquática.
“É uma estrutura que não interfere nos peixes, eles passam normalmente. O que ela segura é apenas o que não deveria estar na natureza”, explica o ativista.
Em quase uma década, o projeto já retirou cerca de 30 toneladas de lixo do rio. Todo material recolhido é destinado à reciclagem ou ao descarte correto.
Do Paraná para o Pará: ecobarreiras em rios da Amazônia
A iniciativa ganhou força e ultrapassou os limites do Paraná. Com apoio de gestores e comunidades locais, a ideia de Diego foi replicada no Pará, estado que sedia a COP30.
Duas novas ecobarreiras foram instaladas: uma no município de Benevides e outra em Belém, no Rio Benfica e no canal Tamandaré. Lá, a manutenção é realizada pelo poder público, responsável por recolher os resíduos acumulados.
O serralheiro Marcelo Antonio Quintiliano, parceiro de longa data de Diego, acompanhou de perto as instalações no Pará.
“É um orgulho imenso ver como o projeto cresceu. Desde o começo estamos juntos batalhando. Hoje ver a ideia funcionando na Amazônia é muito gratificante”, disse.
Reconhecimento global: das margens de casa aos olhos do mundo
A repercussão da ecobarreira ultrapassou a dimensão local. A presença de Diego no Pará durante a COP30 simbolizou a força de iniciativas comunitárias frente à crise climática global.
“Receber vídeos das ecobarreiras em funcionamento no Pará é emocionante. É a prova de que uma ideia que nasceu nos fundos da minha casa pode ganhar o mundo”, afirma Diego.
Exemplo de cidadania e inovação
Mais que uma solução contra o lixo nos rios, a ecobarreira representa um modelo de mobilização cidadã, mostrando que pequenas iniciativas podem gerar impactos ambientais de grande escala.
Com o sucesso no Paraná e agora no Pará, a expectativa é de que a ecobarreira se torne política pública em diferentes estados brasileiros — e quem sabe, em breve, em países que também sofrem com o mesmo desafio: o descarte irregular de resíduos em rios e canais.