Caiu no Enem 2025: Paolla Oliveira, Paulinho da Viola e debates sociais marcam prova considerada leve por especialistas
Exame mistura celebridades, religião, desigualdade e transição energética em um dos cadernos mais comentados dos últimos anos.
O primeiro dia do Enem 2025 trouxe uma combinação que ninguém esperava: discussões sobre padrões de beleza com Paolla Oliveira e Margot Robbie, reflexões sobre fé com trechos da Bíblia e do Alcorão, referências históricas de Macedônia do Norte a Aristóteles, além de temas ambientais como carros elétricos e CO₂. Tudo isso em uma prova considerada, pela maior parte dos professores, “tranquila” e “equilibrada”.
A redação partiu do tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, acompanhada de textos que reforçaram debates sobre estereótipos da velhice, inclusão e desigualdades.
Enquanto candidatos só podiam deixar o local após 18h30, professores e estudantes começaram a construir o retrato da prova: curta, menos cansativa e repleta de discussões sociais atuais, muitas delas ancoradas em referências pop, políticas e religiosas.
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Os 7 grandes temas que dominaram o Enem 2025
1. Padrões de beleza e pressão estética sobre mulheres
A prova trouxe celebridades como Paolla Oliveira, criticada por suposto “acúmulo de peso”, e Margot Robbie, contestada por ser “pouco bonita” para viver a Barbie. A abordagem serviu como exemplo prático das cobranças ainda impostas ao corpo feminino.
2. Envelhecimento da população
A temática do aumento da longevidade apareceu tanto na redação quanto em questões ligadas ao combate a estereótipos, como a substituição de placas de banheiro que representavam idosos curvados com bengala.
3. Inclusão e saúde mental no esporte
Raíssa Leal e sua visão sobre pressão psicológica no esporte reforçaram debates sobre acolhimento, saúde mental e acessibilidade nas práticas esportivas.
4. Comparações entre fé, ciência e trabalho
Pela primeira vez, segundo professores consultados, a prova apresentou trechos bíblicos e do Alcorão em uma mesma questão, discutindo visões religiosas sobre dignidade no trabalho e produção científica.
5. Meio ambiente e transição energética
Da concentração de CO₂ às consequências do desmatamento e ao uso de carros elétricos, o exame manteve forte presença de temas ambientais e climáticos.
6. Questões étnico-raciais
A valorização da cultura afro-brasileira apareceu em diversas perguntas, incluindo patrimônio, religiosidade e linguagem.
7. Filosofia política e clássicos do pensamento
Platão, Aristóteles e Heráclito marcaram presença, assim como Hume, Foucault, Derrida e Marcuse.
Especialistas divididos: prova fácil ou mais técnica?
“Equilibrada e com menos leitura”, avalia coordenador
Para Raul Celestino de Toledo, do Poliedro, o Enem 2025 foi “tranquilo e relativamente fácil”, destacando:
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distribuição equilibrada dos conteúdos;
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textos mais curtos do que nos últimos anos;
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forte presença de questões sobre mulheres e desigualdade racial;
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referência a Paulinho da Viola no lugar da tradicional aparição de Caetano Veloso, usando a canção “Sinal Fechado” para propor reflexões sociais.
“Mais técnica e mais profunda”, aponta o SAS Educação
Vinicius Beltrão vê um cenário oposto. Para ele, a prova de Linguagens e Humanas exigiu interpretação em camadas, em que “o aluno precisava cavar mais fundo” para identificar o sentido das questões.
Ele também destacou:
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maior presença de variação linguística;
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diversidade cultural, incluindo línguas indígenas e termos africanos;
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novidade na inclusão de textos religiosos paralelos;
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muitas questões sobre comunicação e impacto social.
História, Filosofia e Sociologia: um caderno cheio de conexões
História: mais conteúdo, menos interpretação
O professor Pedro Zonta, do SEB Lafaiete, observou uma prova mais conteudista, com perguntas que misturavam espaço geográfico e análise histórica. Ele ressaltou:
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diversos itens sobre cultura, religião e raça;
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ausência de questões sobre ditadura militar;
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baixa presença de História do Brasil;
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discussão ampla de tradições religiosas, incluindo cristianismo, judaísmo, islã e religiões afro-brasileiras.
Filosofia e Sociologia: clássicos e contemporâneos lado a lado
Segundo Larissa Vitória, da Elite Rede de Ensino, o Enem alinhou nomes clássicos e modernos:
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Heráclito e o conceito de cosmos;
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Platão e a cidade ideal;
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Aristóteles e as formas de governo;
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Collier dialogando com Adam Smith;
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Hume, Foucault, Bentham, Derrida, Marcuse e Clarice Lispector.
A abordagem seguiu o padrão do exame: interdisciplinar, reflexiva e socialmente situada.
Linguagens e Códigos: imagens, crônicas e representatividade
O professor Arturo Chiong, do Curso Anglo, avaliou que a prova de Linguagens manteve nível médio, equilibrando textos curtos e questões objetivas. Destaques:
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11 questões com imagens;
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crônicas sobre tecnologia e escrita manual;
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quadros de Dalton Paula destacando figuras negras;
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questões sobre variação linguística (como diferentes formas de dizer “canjica”);
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música sobre exploração do trabalho no exame de espanhol.
No Inglês e no Espanhol, a prova seguiu o padrão dos últimos anos, com foco na leitura e no uso contextual do idioma.
Geografia e meio ambiente: foco no clima e na energia
O professor Rodrigo Magalhães, da Plataforma AZ, destacou que mais da metade das questões giraram em torno de temas ambientais, incluindo:
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aumento global de CO₂;
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impacto do desmatamento amazônico na redução de chuvas no Brasil;
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sensoriamento remoto para combater incêndios no Cerrado;
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redução do nível do Rio Reno e reflexos no transporte europeu;
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transição energética e carros elétricos.
Redação: envelhecimento ganha protagonismo e reflete mudanças demográficas
O tema da redação foi anunciado pelo ministro Camilo Santana nas redes sociais e pegou muitos candidatos de surpresa. O Enem 2025 registrou salto histórico de participação de idosos, com 17.192 inscritos, número 191 por cento superior ao de 2022.
Estados com mais participantes idosos:
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Rio de Janeiro: 3.087
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São Paulo: 2.367
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Minas Gerais: 1.997
O crescimento reforça o debate sobre longevidade e inclusão social, eixo central da proposta de redação.

