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Aos 77 anos, taxista aposentado encara o Enem pela 1ª vez no Paraná e mira Psicologia: “Quero envelhecer com saúde mental”

Uma história que inspira: quase meio século longe da escola, mas nunca longe dos sonhos

Elifas Levi Rodrigues, 77 anos, decidiu que 2025 seria o ano de virar uma nova página na própria história. Depois de 46 anos afastado da sala de aula, ele concluiu o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e agora se prepara para enfrentar, pela primeira vez, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Seu objetivo é claro, direto e repleto de propósito: cursar Psicologia.

“Com a Psicologia eu posso ajudar muita gente. E aí eu me torno uma pessoa que vai envelhecer com saúde mental e com trabalho. Não quero viver na ociosidade”, conta, com convicção de quem decidiu que a vida começa quantas vezes forem necessárias.

Nova geração de candidatos idosos: o salto de 72% nas inscrições

Elifas é um dos 17.192 brasileiros com mais de 60 anos inscritos no Enem de 2025. O número chama a atenção: representa um crescimento de mais de 72% em relação ao ano anterior, quando 9.950 idosos participaram da prova.

É um fenômeno que os especialistas começam a olhar mais de perto. Para alguns, trata-se de uma nova onda de protagonismo da terceira idade em ambientes acadêmicos antes dominados pelos jovens.

“Interpretação vale mais que decorar”: especialistas explicam a mudança no Enem

Segundo o especialista em educação Renato Casagrande, o Enem atual favorece candidatos com maturidade e bagagem de vida.

“O exame deixou de ser uma prova de memorização. Hoje exige interpretação, leitura e contextualização. Isso beneficia o público mais velho, que traz repertório e experiência”, explica.

Esse novo formato se tornou um impulso extra para Elifas, que já vem munindo seu cotidiano com estudos intensivos.

O taxista que transforma o carro em sala de aula

Mesmo aposentado, Elifas mantém a rotina de trabalho como taxista em Curitiba, onde mora desde 1979. O táxi virou extensão da sala de aula: nele, ele consome audiobooks, revisa temas do Enem e treina raciocínio.

“Muita coisa eu estudo no carro. Tenho um acervo de audiobooks no celular. Vou chegar na prova para mostrar o que eu sei”, garante.

EJA: uma porta aberta para quem ainda tem pressa de viver

A retomada dos estudos não foi solitária. O CEEBJA Francisco Macedo, onde concluiu o EJA, foi essencial na trajetória.

“A escola recebe a gente muito bem, com uma equipe muito preparada. Os professores são fantásticos. Um deles virou meu amigo. O EJA muda a vida de muita gente”, diz.

O reconhecimento não demorou: Elifas se tornou aluno destaque da unidade.

Família como combustível: “Minhas netas são as mais animadas”

O impulso para seguir veio principalmente de casa.

“Minha esposa, meus filhos e minhas netas me apoiam muito. As netas são as mais entusiasmadas. É uma experiência fantástica. Não existe dificuldade: basta interagir, ir para a escola e não desistir. Depois que começa, o resto acontece”, afirma.

Crescimento no ensino superior: terceira idade cada vez mais presente

Dados recentes da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI) mostram aumento no número de alunos com mais de 60 anos matriculados em cursos de graduação nas universidades públicas estaduais. Alguns indicadores, aliás, já são os maiores desde 2015.

A expectativa é de que essa curva siga em ascensão, consolidando um novo perfil universitário no país.

Cronograma do Enem 2025

Provas em 9 de novembro

• 45 questões de linguagens (40 de língua portuguesa + 5 de língua estrangeira)
• 45 questões de ciências humanas
• Redação

Provas em 16 de novembro

• 45 questões de matemática
• 45 questões de ciências da natureza

Horários (Brasília)

• Abertura dos portões: 12h
• Fechamento dos portões: 13h
• Início das provas: 13h30
• Término do 1º dia: 19h
• Término do 2º dia: 18h30

“Nunca é tarde para começar”: a mensagem que Elifas deixa para o Brasil

A história de Elifas foge do lugar-comum. Ele mostra que educação não tem idade, que sonhos não envelhecem e que insistir é sempre um investimento que vale a pena.

“É tudo um início. Começou, o restante vem. Quero viver, trabalhar, estudar e ajudar pessoas. A Psicologia é meu caminho”, diz o futuro universitário.

Maria Paula Carnelossi

Por: Maria Paula Carnelossi | Folha Regional

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