Senado dos EUA aprova acordo que encerra o maior shutdown da história
Crise de 41 dias agora segue para teste decisivo na Câmara dos Representantes.
O impasse que paralisou os Estados Unidos por mais de um mês finalmente começa a ceder. Nesta segunda-feira (10), o Senado norte-americano aprovou o projeto que coloca fim ao shutdown mais longo da história do país, abrindo caminho para a retomada gradual dos serviços federais. A decisão, porém, ainda depende de um último e decisivo passo: a votação na Câmara dos Representantes, prevista para esta quarta-feira (12).
🔎 “Shutdown” significa paralisação. Nos EUA, o termo é usado para descrever quando o governo federal suspende parte de suas atividades por falta de aprovação, pelo Congresso, do orçamento anual ou de um financiamento provisório para os gastos públicos.
Um país em marcha lenta: 41 dias de desgaste nacional
A paralisação — que afetou salários, reduziu atendimentos públicos, interrompeu programas alimentares e ameaçou até o tráfego aéreo — se arrastava há 41 dias.
Sem acordo entre Republicanos e Democratas para aprovar o orçamento federal ou um financiamento emergencial, a máquina pública simplesmente congelou.
O destravamento só ocorreu após democratas decidirem, no domingo (9), apoiar os republicanos em uma votação-chave no Senado, permitindo o avanço do pacote de financiamento.
🎯 O que está em jogo: subsídios de saúde, orçamentos e capital político
No centro das negociações estão os subsídios da Lei de Cuidados Acessíveis (Affordable Care Act – ACA), um dos maiores focos de atrito entre os partidos.
Pelo acordo fechado no Senado, os republicanos aceitaram realizar uma votação em dezembro sobre a ampliação desses subsídios — tema prioritário para os democratas. Em troca, os democratas abriram mão de tratar disso como condição para aprovar o projeto agora, movimento visto em Washington como uma capitulação estratégica.
A resolução aprovada também prevê a reversão parcial das demissões feitas pelo governo Trump durante o shutdown, além de garantir por um ano o financiamento do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), essencial para famílias de baixa renda.
A costura política contou com a atuação de Maggie Hassan e Jeanne Shaheen, senadoras democratas de New Hampshire, e do senador independente Angus King, do Maine.
Paralisação já ameaçava até o feriado de Ação de Graças
O domingo marcou o 40º dia de serviços paralisados, com impacto crescente em diversos setores: parques fechados, atrasos em voos, alimentação emergencial limitada e funcionários federais afastados.
Com a proximidade do feriado de Ação de Graças — um dos períodos de maior movimento aéreo no país — a falta de controladores tinha potencial para gerar caos nacional.
“Parece que as coisas finalmente vão se encaixar”, declarou o senador republicano Thom Tillis, citando a pressão crescente da opinião pública.
A Casa Branca alertou que, se a crise se estendesse até o fim do mês, o crescimento econômico do país poderia ficar negativo no quarto trimestre.
Trump pressiona por mudanças no Obamacare
Enquanto o Congresso buscava um acordo, Donald Trump reacendeu o debate sobre os subsídios do ACA, afirmando que os recursos deveriam ser enviados diretamente aos cidadãos para comprarem seus próprios planos de saúde — e não às seguradoras.
Pela Truth Social, o ex-presidente classificou os subsídios como “lucro inesperado das seguradoras” e prometeu negociar mudanças assim que o governo fosse reaberto.
Membros de sua equipe reforçaram que nenhuma proposta será apresentada antes de o Congresso aprovar a medida de financiamento.
“Não vamos negociar com os democratas até que o governo esteja reaberto”, afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
Os prêmios dos planos de saúde devem dobrar em 2026, segundo especialistas, devido ao fim dos subsídios criados durante a pandemia — ampliando ainda mais a disputa política.
Democratas acusam Trump de tentar enfraquecer cobertura de saúde
O senador democrata Adam Schiff afirmou acreditar que a estratégia de Trump busca reduzir a força do ACA e abrir espaço para que seguradoras neguem cobertura a pessoas com condições pré-existentes.
“As mesmas companhias que ele critica — ele quer dar mais poder para cancelarem apólices e excluírem quem tem doenças pré-existentes”, disse Schiff no programa This Week, da ABC.
O que esperar agora?
Com o Senado favorável, o destino do acordo está nas mãos da Câmara dos Representantes.
Se aprovado na quarta-feira (12), o projeto segue para a mesa de Donald Trump, que terá a palavra final para encerrar oficialmente o shutdown.
Enquanto isso, milhões de americanos seguem aguardando a retomada completa dos serviços públicos — e os mercados respiram aliviados pela primeira vez em semanas.

