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COP30 começa oficialmente nesta segunda-feira: o planeta está no limite e Belém vira palco das decisões mais urgentes do século

Conferência reúne 50 mil pessoas e coloca o Brasil no centro das negociações internacionais que vão definir o rumo da crise climática até 2035. 

A COP30 começa oficialmente nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), marcando a primeira vez que a maior conferência climática do planeta acontece dentro da Amazônia. O cenário não poderia ser mais simbólico: a floresta mais estratégica para o equilíbrio do clima global agora recebe líderes mundiais que terão apenas duas semanas para decidir até onde vai o compromisso internacional contra o aquecimento acelerado da Terra.

Cerca de 50 mil participantes, entre diplomatas, governos, ativistas, cientistas e empresários, desembarcaram na capital do Pará. A Cúpula de Líderes, que encerrou na última sexta-feira (7), já deixou claro o clima da conferência: cobranças apertadas, metas ambiciosas e a pressão por abandonar de vez a dependência dos combustíveis fósseis.

 O que é a COP30 e por que ela importa agora

A conferência que começou em 1995 entra em sua edição mais simbólica — e talvez a mais crítica de todas

A COP é a “Conferência das Partes”, grupo formado por 197 países signatários da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, acordo firmado ainda nos anos 1990 para reduzir emissões de gases de efeito estufa. Desde então, a reunião se tornou o evento central para definir o futuro climático do planeta.

Nesta edição, o encontro chega embalado por recordes negativos:

• outubro de 2025 foi o terceiro mais quente da história,
• a temperatura global segue mais de 1,5°C acima do período pré-industrial,
• extremos climáticos se multiplicam em escala inédita.

A mensagem da ciência é direta: o planeta está prestes a cruzar pontos de inflexão irreversíveis.

Pessoas posam para fotos em frente ao local da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), neste sábado (8), em Belém (PA). — Foto: AP Photo/Fernando Llano

O que estará em debate: três eixos que podem mudar o destino climático
do planeta

1. A batalha pela transição energética

O Brasil assume protagonismo ao tentar construir um “mapa do caminho” global, um roteiro que detalhe como, quando e com que recursos cada país deve substituir petróleo, gás e carvão por energia renovável.

Isso envolve:

• metas verificáveis,
• mecanismos de fiscalização,
• cronogramas claros e
• compromissos que vão além de discursos diplomáticos.

“Estamos à beira de pontos de inflexão climáticos e da potencial perda da Amazônia, então, esta COP precisa, simplesmente, promover a mudança urgente necessária. Não há segunda chance e tudo começa com os líderes, que devem dar à COP30 um mandato claro para fechar a lacuna da ambição de 1,5°C”, avalia Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil.

Flotilha indígena chega a Belém (PA) neste domingo (9), às vésperas da COP30, trazendo representantes de diversos países da América Latina para a conferência do clima da ONU. Na lateral do barco, uma faixa com os dizeres “Amazônia livre de petróleo”. — Foto: REUTERS/Adriano Machado
Flotilha indígena chega a Belém (PA) neste domingo (9), às vésperas da COP30, trazendo representantes de diversos países da América Latina para a conferência do clima da ONU. Na lateral do barco, uma faixa com os dizeres “Amazônia livre de petróleo”. — Foto: REUTERS/Adriano Machado

2. Adaptação climática: medir quem está preparado — e quem não está

Outro ponto-chave será o Objetivo Global de Adaptação (GGA), ferramenta destinada a medir o nível de preparação dos países frente aos impactos já inevitáveis da crise climática.

A meta é ambiciosa: criar parâmetros internacionais para avaliar desde vulnerabilidade a enchentes e ondas de calor até capacidade de resposta a eventos extremos.

O desafio? Garantir dinheiro real, e não apenas promessas.

“Sem recursos previsíveis, adaptação vira só retórica”, afirma Vaibhav Chaturvedi, do CEEW.

3. Financiamento climático: a disputa por trilhões

Países em desenvolvimento chegam a Belém com um recado firme: não há combate ao aquecimento global sem financiamento massivo.

O centro do debate será o Roteiro de Baku a Belém, plano para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, com condições mais vantajosas para quem mais sofre os impactos do clima.

Além disso, temas como:

• o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF),
• o fortalecimento dos mercados de carbono,
• e o combate ao racismo ambiental

devem ganhar espaço nas negociações.

Brasil quer comandar a nova geopolítica climática

País aposta em protagonismo diplomático, energia renovável e no fundo florestal para mostrar liderança global

O Brasil chega à COP30 com a missão de se firmar como ponte entre o Norte e o Sul Global. O discurso do presidente Lula durante a Cúpula de Líderes deixou claro o foco: transição energética justa, ampliação de combustíveis sustentáveis e valorização da bioeconomia.

Um dos grandes trunfos do governo é o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis (Belém 4X), feito em parceria com Itália e Japão, para quadruplicar o uso global desses combustíveis até 2035.

Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto aposta no TFFF como novo modelo de financiamento climático baseado em renda fixa, já com promessas de US$ 5,5 bilhões em aportes internacionais.

Mas o governo também enfrenta contradições: o avanço de blocos de petróleo na margem equatorial, anunciado dias antes da COP, gerou críticas dentro e fora do país.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, caminha ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da plenária da Cúpula do Clima, parte da COP30, em Belém (PA), em 6 de novembro de 2025. — Foto: REUTERS/Adriano Machado
O secretário-geral da ONU, António Guterres, caminha ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da plenária da Cúpula do Clima, parte da COP30, em Belém (PA), em 6 de novembro de 2025. — Foto: REUTERS/Adriano Machado

Quem faz a COP30 acontecer

Por trás das câmeras, o trabalho pesado de mediar interesses do planeta inteiro

A operação da conferência é comandada por duas lideranças brasileiras:

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, responsável por negociar com mais de 190 países e costurar acordos;
Ana Toni, diretora-executiva do evento, encarregada de garantir o funcionamento da programação, agendas e grupos de trabalho.

A ministra Marina Silva e o embaixador André Corrêa do Lago em reunião ministerial de Clima, Energia e Meio Ambiente do G7. — Foto: Felipe Werneck/MMA
A ministra Marina Silva e o embaixador André Corrêa do Lago em reunião ministerial de Clima, Energia e Meio Ambiente do G7. — Foto: Felipe Werneck/MMA

Nas COPs, os dias começam cedo com discussões técnicas, avançam para reuniões ministeriais e podem terminar com decisões políticas de madrugada. Tudo precisa ser negociado, revisado e aprovado sem atraso.

O que a COP30 precisa entregar: metas duras, dinheiro real e um caminho claro

A comunidade científica e os principais observadores internacionais esperam que Belém produza resultados concretos:

1. Metas climáticas mais fortes (NDCs)

A maioria dos países ainda não enviou metas compatíveis com o limite de 1,5°C. Hoje, os compromissos vigentes reduziriam apenas 4% das emissões até 2035, quando seria necessário cortar 60%.

2. Um mapa global da transição energética

Um roteiro com prazos, etapas e mecanismos de implementação que transformem a decisão da COP28 — reduzir combustíveis fósseis — em ação real.

3. Financiamento à altura do desafio

Sem trilhões de dólares em jogo, nenhuma meta será cumprida. A COP30 será o teste para ver se as promessas finalmente viram política concreta.

“Se não falarmos de combustíveis fósseis e de como abandoná-los, a COP falha em seu propósito”, afirma Marina Silva.

Belém no centro do mundo — e o mundo no limite

A COP30 não é apenas mais uma conferência climática. Ela marca o momento em que a Amazônia, o maior regulador natural do planeta, recebe a responsabilidade de influenciar os próximos passos da humanidade.

As decisões tomadas nas próximas duas semanas vão determinar se ainda existe chance de manter a temperatura global sob controle ou se a década será marcada pela escalada de extremos climáticos.

O planeta está no limite. E Belém, agora, é o centro das decisões que podem redefinir o futuro climático da Terra.

Maria Paula Carnelossi

Por: Maria Paula Carnelossi | Folha Regional

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