Lula chega a Brasília decidido a definir sucessor de Barroso, plano fiscal para 2026 e futuro político de Boulos
Três decisões estratégicas em uma semana decisiva
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retorna nesta terça-feira (14) a Brasília, após viagem oficial a Roma, com três pautas centrais que prometem movimentar o cenário político e econômico do país:
-
a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), após a aposentadoria de Luís Roberto Barroso;
-
a busca por alternativas para fechar as contas de 2026, após o fracasso da medida provisória que aumentava tributos;
-
e a decisão sobre o futuro político do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), cotado para integrar o primeiro escalão do governo.
Fontes do Planalto confirmam que Lula pretende bater o martelo sobre os três temas ainda nesta semana, em meio a uma agenda de reuniões com ministros, líderes do Congresso e assessores políticos.
Nova vaga no STF: Lula quer definir nome “gabaritado e comprometido com a Constituição”

Durante entrevista em Roma, onde participou da Semana Mundial da Alimentação da ONU e se encontrou com o Papa Leão XIV, Lula afirmou que ainda está “ouvindo muita gente” antes de anunciar o nome que ocupará a cadeira deixada por Barroso.
“Eu quero uma pessoa gabaritada, que cumpra a Constituição. Não quero um amigo, quero um ministro da Suprema Corte”, declarou o presidente.
Entre os nomes mais cotados estão:
-
Jorge Messias, advogado-geral da União e considerado o favorito pessoal de Lula;
-
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado;
-
Bruno Dantas, presidente do TCU;
-
e Daniela Teixeira, ministra do STJ, vista como alternativa para atender à pressão por uma indicação feminina — e, especialmente, de uma mulher negra.
A tendência, segundo interlocutores do governo, é que Lula opte por Messias, reforçando a linha de confiança que já pautou as indicações de Cristiano Zanin e Flávio Dino ao STF.
Crise fiscal: governo tenta salvar meta de 2026 após derrota no Congresso
O segundo grande desafio de Lula nesta semana é reconstruir o plano fiscal que garantiria superávit de R$ 34 bilhões em 2026. A missão se tornou mais difícil após a Medida Provisória da arrecadação — que previa aumento de tributos — perder a validade sem ser votada pela Câmara dos Deputados.
A derrota política expôs divisões dentro da base governista e impôs uma corrida por novas fontes de receita. Uma das alternativas em análise é elevar a tributação das fintechs, empresas do setor financeiro digital que, segundo o presidente, “já são maiores que muitos bancos e precisam pagar o imposto devido”.
Nos bastidores, a equipe econômica tenta conter gastos, mas enfrenta entraves políticos e administrativos. Medidas de economia como a biometria obrigatória para beneficiários do Bolsa Família e BPC — que poderia economizar R$ 2,5 bilhões por ano — ainda não foram implementadas de forma efetiva.
Enquanto isso, o governo vê o Orçamento cada vez mais engessado, com 92% das despesas já comprometidas com gastos obrigatórios.
Retaliações e queda de braços com o Centrão
Após o revés da MP, o Planalto iniciou uma onda de demissões de indicados do Centrão em cargos de segundo escalão, numa clara retaliação ao grupo político que, segundo aliados de Lula, “quebrou o acordo” e contribuiu para a derrota do governo no Congresso.
A estratégia, além de reafirmar o comando do presidente sobre a base, visa reorganizar forças políticas para garantir futuras votações de interesse do governo.
Boulos no Planalto
A terceira frente de decisão envolve Guilherme Boulos (PSOL-SP), aliado histórico de Lula e nome de peso da esquerda. O presidente avalia nomeá-lo para um ministério no Palácio do Planalto, muito possivelmente na Secretaria-Geral da Presidência, atualmente chefiada por Márcio Macêdo.
A ida de Boulos para o Planalto é vista como um gesto de aproximação com os movimentos sociais, além de fortalecer a aliança estratégica com o PSOL, que tem sido um importante parceiro político do governo.
Na semana passada, Boulos participou ao lado de Lula do lançamento de um novo modelo de crédito imobiliário em São Paulo — um sinal claro de que sua nomeação pode estar próxima de ser oficializada.
Semana decisiva no poder
Entre disputas no Congresso, pressões internas e expectativas no Judiciário, Lula inicia uma das semanas mais estratégicas de seu terceiro mandato.
As definições sobre o STF, o plano fiscal e o futuro de Boulos devem redesenhar o equilíbrio político entre o Planalto, o Congresso e o Supremo, com efeitos diretos sobre a governabilidade e o rumo do país até 2026.

