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Intoxicação por Metanol: sintomas silenciosos podem ser fatais em poucas horas

Três mortes em São Paulo acendem alerta para consumo de bebidas adulteradas

A recente confirmação de três mortes na Grande São Paulo por intoxicação causada pelo consumo de bebidas adulteradas com metanol colocou autoridades de saúde em estado de atenção máxima. O risco é silencioso: sintomas semelhantes a uma embriaguez comum podem mascarar um quadro gravíssimo que, sem socorro imediato, leva à morte.

Quando desconfiar: sinais que exigem urgência

De acordo com especialistas, os sintomas podem surgir entre 10 e 12 horas após a ingestão, mas há casos em que só aparecem até 48 horas depois. A confusão é perigosa: no início, os sinais lembram uma simples ressaca. Porém, se houver visão turva, dor intensa de cabeça, confusão mental ou cólicas abdominais persistentes, a recomendação é clara: procurar imediatamente uma emergência hospitalar.

“Se o atendimento não for feito de forma rápida e adequada, a taxa de mortalidade pode ultrapassar 50%. Com tratamento precoce, esse índice cai para menos de 10%”, alerta a médica intensivista e presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Patrícia Mello.

O que acontece no corpo após a ingestão

O fígado é o primeiro órgão atingido. Ele transforma o metanol em substâncias ainda mais tóxicas, que afetam o cérebro, a medula e o nervo óptico. O resultado pode ser devastador:

  • Cegueira irreversível

  • Insuficiência renal

  • Falência pulmonar

  • Coma em poucas horas, em casos mais graves.

Entre os sintomas iniciais estão:

  • Dor de cabeça forte

  • Náuseas e vômitos

  • Alteração da consciência

  • Visão borrada, pontos escuros e até perda súbita da visão

  • Dor abdominal e vertigem

Socorro imediato: o que a emergência faz

Em hospitais, o atendimento passa por exames específicos, como gasometria, osmolaridade sérica e nível sérico de metanol. A depender do grau de intoxicação, o paciente pode precisar de:

  • Hemodiálise, para filtrar o sangue;

  • Oxigênio, soro e ácido fólico;

  • Administração de etanol venoso ou oral, que age como um antídoto ao competir com o metanol no metabolismo;

  • Em países onde está disponível, o antídoto fomepizol substitui o etanol, mas ainda não existe no Brasil.

Por que o etanol pode salvar vidas?

O hepatologista e professor da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná, explica que o etanol age como um “bloqueio químico”:

“Ao metabolizar primeiro o etanol, o organismo reduz a conversão do metanol em formaldeído e ácido fórmico — substâncias letais. Isso dá tempo para que o metanol seja eliminado pela urina antes de causar danos irreversíveis.”

Ações policiais e riscos à população

Após as mortes confirmadas, a Polícia Civil realizou operações em comércios suspeitos de vender bebidas adulteradas. Ao todo, 117 garrafas sem rótulo foram apreendidas. O alerta é para que consumidores evitem produtos de origem duvidosa e não consumam bebidas sem procedência clara.

O perigo invisível do “álcool da madeira”

O metanol (CH₃OH) é um álcool simples, incolor, altamente inflamável e de odor semelhante ao do etanol comum. Popularmente chamado de “álcool da madeira”, já foi obtido pela destilação de toras, mas hoje é produzido industrialmente a partir do gás natural. Por ser difícil de identificar, seu uso em bebidas clandestinas é especialmente traiçoeiro.

Concentração de casos preocupa médicos

A médica intensivista Camila Prado destacou que o número de intoxicações recentes em São Paulo chamou a atenção pela alta concentração em um curto período, algo incomum nos registros médicos de casos acidentais.

Alerta Final

O recado dos especialistas é direto: não existe tratamento caseiro para intoxicação por metanol. Qualquer suspeita deve levar imediatamente ao hospital. A diferença entre a vida e a morte pode estar em horas de atraso no atendimento.

Maria Paula Carnelossi

Por: Maria Paula Carnelossi | Folha Regional

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