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Quadrilha usava disfarces e fraudes digitais para desviar benefícios sociais por cinco anos

Perucas, rostos pintados e até inteligência artificial eram armas do grupo que cooptava funcionários da Caixa e lotéricas para roubar programas sociais

A Polícia Federal (PF) desarticulou um esquema milionário de fraudes que desviava benefícios sociais de famílias de baixa renda por meio do aplicativo Caixa Tem. O grupo criminoso atuava desde 2020, e suas estratégias incluíam desde o uso de perucas e rostos pintados até fotos geradas por inteligência artificial, sempre com o objetivo de burlar os sistemas de segurança do banco.

O líder da fraude

Segundo as investigações, o grupo era chefiado por Felipe Quaresma Couto, monitorado pela PF desde 2022. Ele foi preso na última quinta-feira (18) em um bar onde trabalhava. Junto dele, também foi preso Cristiano Bloise de Carvalho. Outros quatro comparsas seguem foragidos.

A dupla já foi transferida para o Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro, onde respondem por estelionato qualificado, corrupção de funcionários públicos, inserção de dados falsos em sistema e organização criminosa.

A “parceria do crime”

A engrenagem da quadrilha só funcionava graças à cooptação de funcionários da Caixa Econômica Federal e de lotéricas. Um único servidor, segundo a PF, chegou a receber mais de R$ 300 mil em propina para liberar acessos.

Interceptações telefônicas revelam a dimensão da corrupção. Em uma mensagem, Felipe dizia a um comparsa: “16 horas o ‘gera’ começa a soltar”. Para a PF, “gera” era a referência direta a um gerente do banco.

Esses funcionários tinham o poder de apagar cadastros legítimos e recriá-los com novos dados, mantendo CPF, nome e data de nascimento das vítimas. Assim, os criminosos assumiam o controle das contas e desviavam valores de programas como FGTS, Bolsa Família e abono salarial.

Golpe cruel contra os mais pobres

A maioria das vítimas era de famílias de baixa renda. O delegado da PF no Rio, Wanderson Pinheiro da Silva, destacou o impacto social do crime:

“Ficar um ou dois meses sem receber um benefício assistencial causa um desgaste emocional enorme nas famílias, que precisam recorrer às agências, contestar e esperar ressarcimento”.

O uso da tecnologia e dos disfarces

O grupo não economizava em criatividade para enganar o sistema de reconhecimento facial do Caixa Tem. Foram encontradas milhares de fotos falsas criadas por inteligência artificial, além de selfies de criminosos disfarçados.

Felipe e os comparsas usavam toalhas na cabeça, perucas loiras, tintura no rosto e até cortes de cabelo alterados para gerar novas imagens de validação. Em uma conversa interceptada, um dos golpistas comentou:

“Vou até fazer a minha barba pra pintar a cara de novo”.

A quadrilha ainda cooptava pessoas em situação de rua e cidadãos vulneráveis para fornecer “rostos virgens”, ou seja, biometria ainda não cadastrada nos sistemas bancários.

Reação da Caixa

A Caixa Econômica Federal informou que participou ativamente das investigações, denunciou e afastou os funcionários envolvidos. O banco destacou que atualiza diariamente os sistemas de segurança e anunciou a criação de uma diretoria de cibersegurança para prevenir novos ataques.

“O sistema de segurança é atualizado constantemente, em conjunto com outras instituições financeiras. Há troca de informações e inteligência para manter os mecanismos cada vez mais robustos”, afirmou Anderson Possa, vice-presidente de segurança, logística e operações da Caixa.

O alerta dos especialistas

Apesar dos avanços tecnológicos, especialistas reforçam que nenhum sistema resiste à corrupção humana. Para o analista de segurança da informação Wanderley Abreu Júnior,

“se a peça principal, o ser humano, é corrompida, o sistema cai”.

O fim do disfarce

A investigação revelou centenas de imagens de disfarce nos celulares de Felipe e Cristiano. Desta vez, no entanto, as novas fotos tiradas na cadeia não trazem sorrisos nem perucas.

De toalha na cabeça e rostos pintados à sofisticação da inteligência artificial, a quadrilha mostrou criatividade para roubar os mais pobres. Mas a justiça os desmascarou.

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