Planetas habitáveis ao redor de anãs brancas? Cientistas desafiam os limites da vida fora da Terra
Uma nova fronteira na busca por vida alienígena
Será possível que mundos orbitando estrelas “mortas”, minúsculas e densas, abriguem oceanos e, talvez, formas de vida? Pesquisas recentes indicam que a resposta pode ser sim — e esse pode ser um dos cenários mais promissores para encontrar vida além da Terra
O futuro do Sol e o destino do Sistema Solar
Um dia, o Sol deixará de existir como o conhecemos. Quando consumir todo o seu combustível de hidrogênio, ele se transformará em uma gigante vermelha, expandindo-se até engolir Mercúrio, Vênus e a própria Terra.
O que restará após essa transformação será uma anã branca — o núcleo incandescente e compacto da estrela. Longe de significar apenas destruição, esse processo pode abrir uma nova possibilidade: mundos sobreviventes ou migrados para perto dessas estrelas mortas podem se tornar habitats de vida extraterrestre.
Planetas em órbita de estrelas mortas
Em 2020, cientistas confirmaram pela primeira vez a existência de um planeta intacto orbitando uma anã branca. A descoberta abriu um campo fascinante: será que esses mundos podem ter condições semelhantes à Terra?
A resposta depende da chamada zona habitável — a distância exata onde a água líquida pode existir. No caso das anãs brancas, essa região é extremamente próxima da estrela, cerca de 100 vezes mais perto do que a Terra está do Sol.
O desafio do calor e da gravidade
Mas a proximidade traz dilemas. Planetas muito perto de uma anã branca estariam sujeitos a intensas forças de maré, deformando seu interior e liberando calor. É o mesmo fenômeno que torna Io, lua de Júpiter, o corpo mais vulcânico do Sistema Solar.
Esse aquecimento pode destruir oceanos, mas também pode — em equilíbrio — manter água líquida sob camadas de gelo, como ocorre em Europa, outra lua de Júpiter. A chave, segundo astrônomos, é encontrar o ponto em que o calor seja suficiente para preservar a água, mas não para evaporá-la.
Sobrevivendo à morte da estrela
Há outro obstáculo: o planeta precisa sobreviver à fase de gigante vermelha. Como mundos próximos serão engolidos pela estrela em expansão, apenas planetas distantes, em regiões como a órbita de Júpiter, teriam chances.
Depois, seria necessário que migrassem para mais perto da anã branca. Simulações apontam que isso é possível, embora arriscado: a migração pode aquecer demais o planeta e evaporar sua água. Porém, se essa jornada ocorrer quando a anã branca já estiver mais fria, a sobrevivência de oceanos é plausível.
A nova aposta da Astronomia
Estima-se que existam 10 bilhões de anãs brancas apenas na Via Láctea. Se mesmo uma fração delas abrigar planetas com condições para a vida, o número de possíveis “novas Terras” seria imenso.
O desafio é detectá-los: como essas estrelas são pequenas, encontrar sinais de trânsito planetário é estatisticamente improvável. Ainda assim, telescópios avançados como o James Webb podem ser a chave para revelar atmosferas e moléculas biológicas em mundos ao redor dessas estrelas.
O que está em jogo
Encontrar vida em planetas orbitando anãs brancas mudaria radicalmente nossa visão do cosmos. Mostraria que a vida pode não apenas surgir, mas persistir muito além da morte de uma estrela.
Em outras palavras: mesmo quando o Sol se apagar, a vida, em algum canto da galáxia, pode continuar florescendo sob a luz tênue de uma estrela morta.